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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Como componho? Por que componho? Para quem componho?- Walter Smetak


Como componho?

Diferenciam-se dois modos: um que se dedica à pesquisa acústica, – construções de instrumentos –, e depois a sua aplicação prática. Se por acaso faltam timbres ou espécies de sons naturais ou eletrônicos, as definições ficam difíceis, devido a esta falta de recursos.
A realização de novos timbres pode levar o compositor a estranhos resultados, aonde ele pode constatar que a música que ele se comprometeu de fazer compõe-se de ricas ornamentações de timbres, mas não possui o fluido da música organizada. Uma parte da energia desviada no espaço, digamos que seja no papel ou em algum universo paralelo, dará um produto sempre de caráter meditativo, onde nada acontece no sentido orgânico do crescimento da música.
Sendo o Som o material do qual fazemos a música, este trabalho inclui pesquisa dos intervalos, a análise das escalas matemáticas ou temperadas, e as outras – os sons naturais – (harmônicas). A observação de que o Som, a nota musical em vibração, é o efeito de Algo ainda bastante desconhecido, digamos semente de uma árvore que se multiplica na sua capacidade plena no homem, onde a percepção pode ser a máxima possível, deixa adivinhar que a forma do Som é universal, e, entretanto se limita em qualquer objeto visível, passando a transitoriedade do processo da coagulação para a dissolução.
O objeto visível se identifica, por exemplo, nos artes plásticas, com o Som concreto, mas não sendo ainda a música.
O perigo neste procedimento, é que a pesquisa pode engolir o compositor, ainda mais observando que "qualquer coisa" é composta de vários elementos causadores (variantes) para uma composição. Nos instrumentos cinéticos, pode ser aprovado pela velocidade do giro, que o ritmo, a melodia (linha horizontal) e a harmonia, dependem da velocidade do giro. (Instrumento de minha autoria "A Ronda").

Infiltra-se um novo fator nestas observações: que não existe o acaso, mas sim o causalidade. Prova esta afirmação um trabalho aonde foi usado um violão comum, em afinação original, e tocado pelo vento.
(Violão eólico). Pela vibração, explorando a frequência inteira das cordas, tem acontecido um fenômeno de continuidade do som, modulando para um epílogo de uma coletividade para um Uníssono. Não houve nenhuma interferência humana, foi apenas o próprio instrumento, já preexistindo.
Sendo este processo gravado, apareceu ainda um outro fator: a Inter acústica do instrumento:  encontram-se sons e harmonias neste processo, que não ficam auditíveis na maneira comum de tocar um instrumento qualquer de cordas.
Desta pesquisa se desenvolveu depois o plano "OVO", que explora a Inter acústica, e simultaneamente, a microtonização, que se biparte em dois modos: 1° da afinação temperada, e 2° da afinação natural.
Essas constatações se baseiam na obra do autor mexicano Julian Carillo, "SONIDO 13". Embora como parece, esta obra seja pouco realizável, preocupa a mente e pode influir no procedimento tradicional do trabalho musical.
O processo pode ser feito escrevendo os símbolos no papel. Prefiro porém a improvisação, eventualmente gravada para depois retransformá-la na escrita. Prefiro a improvisação para enfrentar o imprevisto e analisar, durante a "tocada", tanto os elementos musicais, como a ecologia psíquica que os mesmos atraem.
Prefiro este processo vivo de composição, onde sempre deve haver um contínuo temático que não pode parar, à composição escrita, para manter a musicalidade espontânea.




Por que componho?

Defendendo a tese de que um dia, muito longe ainda, seria o verdadeiro caminho de se fazer a música,
se as nossas inteligências fossem mais apuradas, compor por simples prazer ao trabalho, por nele,no momento, acho a felicidade, a qual talvez posso transmitir ao público. Procuro manejar o processo do máximo dinamismo, que se estende até os não-acontecimentos, e deve ultrapassar o silêncio do som dacaixa (instrumento musical). Aplico o "choque": a dissonância.




Para quem componho?

Por prazer da própria experiência – se ela for feita em grupos ou individualmente –, para ensinar.
Para criar mil pontos de interrogações e ganhar uma participação grande, se por eventualidade tiver público. Aprendi que a discordância causa mais resultados para evocar diálogos, do que a concordância, procedimento acadêmico que estabelece o processo do pensador "contínuo".
Sintetizando, a minha resposta às três perguntas, é a seguinte:
Componho para pesquisar a matéria viva humano, a sua reação ou não reação ao tema abordado,o domínio do silêncio e a profundidade e dinâmica do Som que faz a música.
Componho por puro prazer ao trabalho que me propõe durante o processo no qual acontece
uma felicidade muito rara .
Digo logo, componho para todos os presentes, que me acompanham, tanto os vivos que os mortos, para o Universo integral, que finalmente sou eu mesmo, ou poderia ser um dia.
Observação: Tenho perdido atualmente as salas de ensaio devido a uma invasão de cupim, fixando-me na produção de livros para preservar esta experiência da pesquisa, tanto musical que literária.



Walter Smetak

segunda-feira, 23 de junho de 2014

LP Interregno completando 34 anos.

Em Julho de 1980 Walter Smetak  e Conjunto de Microtons  lançaram o disco Interregno , um marco da música microtonal com o patrocínio da Fundação Cultural do Estado da Bahia.
Os sons deste álbum foram Gravados em novembro de 1979, no estúdio da EMAC/UFBa e mixados nos estúdios WR, com direção de produção de Carlos Pita.
Músicos: Walter Smetak, Thomaz Gruetz, Baltazar Schawabe, Hans Ludwig,Samuel da Motta, Elcio Sá, Antonio Sarquis, Tuzé de Abreu.






MP132 – Walter Smetak & Conjunto Microtons / Interregno (1980)
Discos Marcus Pereira – FCBE 1002 – Tracks: 7  Playing time:  46:34
.
1 Tendenciosa – Walter Smetak & Conjunto Microtons – (Walter Smetak) (7:02)
2 Plágio – Walter Smetak & Conjunto Microtons – (Walter Smetak) (12:40)
3 Espelhos – Walter Smetak & Conjunto Microtons – (Walter Smetak) (2:56)
4 Trifase – Walter Smetak & Conjunto Microtons – (Walter Smetak) (6:14)
5 Sementeira – Walter Smetak & Conjunto Microtons – (Walter Smetak) (5:56)
6 Ofício – Walter Smetak & Conjunto Microtons – (Walter Smetak) (5:09)
7 Convite – Walter Smetak & Conjunto Microtons – (Walter Smetak) (6:37)

PLÁGIO 


 Tendenciosa



Texto de Smetak, na contracapa de Interregno:


O LP com o nome de "INTERREGNO" é uma raridade, pois será o último desta série de experiências. Esta pesquisa levou à uma quase infinita variedade da diversidade que não acaba mais: procuremos então os binóculos, para acharmos o caminho de volta. Trabalhamos durante 5 anos os violões microtonizados, com certo êxito. Os instrumentos criados por mim foram quase abandonados, porque a preocupação de achar soluções dominava. Os violões microtonizados pareciam oferecer um campo ideal para abrir o painel sonoro. Mas o que faltava neles era a continuidade da sonoridade. A constante repetição de uma nota, para sustentar um som longo, nos obrigou a procurar outros recursos, acústicamente distantes da sonoridade do violão. Foi adquirido um órgão eletrônico. Este por sua vez, equipado de grandes recursos, começou a predominar, o que tornou os violões simples acompanhadores. Aprendeu-se, muito mais tarde, à usar o órgão para aquilo ao que ele foi destinado: produzir sons longos. Desta maneira foi gravado o disco. A ausência da voz humana fez-se sentir, não se achou uma cantora adaptada ao tipo de música improvisada que pretendíamos fazer. Assim, buscamos o velho instrumental, que já estava afastado, e para surpresa de todos, houve uma súplica favorável. Gravamos também solis de violoncelo e órgão, que não constam neste disco, devido as restrições da mixagem, e ao tempo disponível. Foi necessário fazer tudo à jato. Até o tempo improvisou-se! Nas gravações, não constando neste disco, foi alcançado um outro plano. E como dissemos no início: o disco é uma raridade tal como ele está, cheio de possibilidades, de um futuro que ninguém pode saber como poderia ser. Mas para não vitimar mais gente, preferimos parar por aí. O vaso arrebentou-se em cacos. Tomem cuidado para não ferir o ouvido.
WALTER SMETAK

Faixa 01-Tendenciosa.
Compositor-Walter Smetak.
Músico(s):
Antônio Sarquis : Violão Microtonizado com Arco
Baltazar Scwabe : Violão Microtonizado com Arco
Élcio Sá : Violão Microtonizado com Arco
Hans Ludwig : Violão Microtonizado com Arco
Samuel da Motta : Violão Microtonizado com Arco
Thomas Gruetz : Violão Microtonizado com Arco
Walter Smetak : Órgão Yamaha
                                 
Faixa 02-Plágio.
Compositor-Walter Smetak.
Músico(s):
Antônio Sarquis : Chori Baixo
Antônio Sarquis : Flautas
Baltazar Scwabe : Flautas Andinas
Baltazar Scwabe : Borel
Élcio Sá : Peixe
Élcio Sá : Colóquio
Élcio Sá : Borel
Élcio Sá : Constelação
Hans Ludwig : Tímpanos
Hans Ludwig : Vasos
Hans Ludwig : Ronda
Hans Ludwig : Árvore
Hans Ludwig : Borel
Samuel da Motta : Tímpanos
Samuel da Motta : Selvadura
Samuel da Motta : Ronda
Samuel da Motta : Flauta
Samuel da Motta : Borel
Thomas Gruetz : Vida
Thomas Gruetz : Borel
Thomas Gruetz : Quadrado Mágico
Thomas Gruetz : Gaita
Thomas Gruetz : Aranha
Tuzé de Abreu (Alberto José Simões de Abreu): Flautas
Tuzé de Abreu (Alberto José Simões de Abreu): Boréis
Walter Smetak : Mimento
Walter Smetak : Barco
Walter Smetak : Órgão Yamaha
Walter Smetak : Colóquio

Faixa 03-Espelhos.
Compositor-Walter Smetak.
Músico(s):
Antônio Sarquis : Violão Microtom (Mi Grave)
Baltazar Scwabe : Violão Microtom (Si)
Élcio Sá : Violão Microtom (Lá)
Hans Ludwig : Violão Microtom (Sol)
Samuel da Motta : Violão Microtom (Ré)
Thomas Gruetz : Violão Microtom (Mi Agudo)
Walter Smetak : Órgão Yamaha
                                 
Faixa 04-Trifase.
Compositor-Walter Smetak.
Músico(s):
Élcio Sá : Violão Microtom (Lá)
Élcio Sá : Violão
Thomas Gruetz : Violão Microtom (Mi Agudo)
Thomas Gruetz : Violão Microtom (Mi Grave)
Walter Smetak : Órgão Yamaha
                                 
Faixa 05-Sementeira.
Compositor- Walter Smetak.
Músico(s):
Antônio Sarquis : Chori Baixo
Antônio Sarquis : Flautas Xavantinas
Baltazar Scwabe : Samponas
Baltazar Scwabe : Flautas Duplas
Baltazar Scwabe : Vasos
Élcio Sá : Peixe
Élcio Sá : Violão Microtonizado com Arco
Élcio Sá : Constelação
Hans Ludwig : Ronda
Hans Ludwig : Árvore
Samuel da Motta : Mimento
Samuel da Motta : Colóquio
Samuel da Motta : Cítara
Thomas Gruetz : Gaita
Thomas Gruetz : Vau
Thomas Gruetz : Sinos
Walter Smetak : Órgão Yamaha
Walter Smetak : Selvadura
Walter Smetak : Vida
Walter Smetak : Chori Smetano
                                 
Faixa 06-Ofício.
Compositor -Walter Smetak.
Músico(s):
Antônio Sarquis : Borel
Baltazar Scwabe : Borel
Élcio Sá : Borel
Hans Ludwig : Borel
Samuel da Motta : Borel
Thomas Gruetz : Borel
Walter Smetak : Órgão Yamaha
                                 
Faixa 07-Convite.
Compositor -Walter Smetak
Músico(s):
Antônio Sarquis : Violão Microtonizado com Arco
Antônio Sarquis : Flautas
Antônio Sarquis : Percussão                      
Baltazar Scwabe : Violão Microtonizado com Arco
Baltazar Scwabe : Flautas
Baltazar Scwabe : Percussão
Élcio Sá : Violão Microtonizado com Arco
Élcio Sá : Flautas
Élcio Sá : Percussão
Hans Ludwig : Violão Microtonizado com Arco
Hans Ludwig : Flautas
Hans Ludwig : Percussão
Samuel da Motta : Violão Microtonizado com Arco
Samuel da Motta : Flautas
Samuel da Motta : Percussão
Thomas Gruetz : Violão Ovation
Tuzé de Abreu (Alberto José Simões de Abreu): Flautas
Walter Smetak : Violoncelo

[Agradecimentos ao blog Abracadabra-LPs do Brasil] 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Psychedelic Down - O projeto experimental de Márcio Prata




Márcio Prata vem desde 1996 produzindo sons experimentais solo, os quais ele denomina Psychedelic Down. 


Somatonal 
       Márcio Prata o que o levou a criar o projeto Psychedelic Down?

Resposta
      Primeiramente uma influencia musical que foi a base fundamental para meus sons, quando tive a oportunidade de ouvir discos de vanguarda desde cedo, que me fizeram enxergar o contexto.
Depois, lá pelos idos de 1996, ao comprar um PC, pude entrar no mundo da edição experimental e gravei dois trabalhos em fita K7, devia ter umas 10 músicas experimentais. Ainda não era Psychedelic Down, mas a semente tinha sido lançada.
Em 1998 adquiri um Casio CT 100, e ai sim gravei o que seriam os primeiros rudimentos do Psychedelic Down. Usei também uma pianola Hering de madeira, uma flauta de conduíte,  um tanque de gasolina velho com umas cordas de aço esticadas e o bom e velho PC. Mas só em  2002 consegui produzir dois CD´r do Psychedelic Down , com sons psicodélicos e eletroacústicos.
Posteriormente, em 2007 consegui lançar sons do  projeto em um LP, o 3 way O SOMA , com O Vento Azul do Som, onde  também toquei sintetizadores  e teclado, e o Olho por Olho.


LP O SOMA

Ano passado saiu pelo selo Badoh Negro o Psychedelic Down 3 , também conhecido como Psicolocibe. Este álbum contem sons dos  primeiros CD-Rs,  O Control  Door  e o  Arte Nunca, com algumas faixas inéditas.
Continuo na ativa e estou para lançar o Psychedelic Down 4 com todas as faixas inéditas.

PD1-Control Door
  
PD2-Arte Nunca


PD3-Psicolocibe

Somatonal 
      Por qual razão você optou por eletroacústica psicodélica?

Resposta
      Comecei a produzir sons experimentais eletrônicos, com o desejo de viabilizar na música experimental, a exemplo de grandes músicos e projetos, a mudança de percepção, provocada pelo som, o que possibilita revelar uma identidade oculta em todos nós. A psicopatia! Animália! e mostrar o vislumbre destas alterações.
Existe sons que fazem o ouvinte atingir um estado alterado de consciência, psicopata, ou xamânico, por assim se dizer.

                                       
                     Vento Azul do Som- Livre
                      Márcio Prata- Teclado
                      Marcelo Prata-Bateria

Somatonal
     Você participou de  outros projetos sonoros?  Quer dizer algo sobre eles?

Resposta
      Além de estar trabalhando para lançar o Psychedelic Down 4, estou  gravando músicas , atonais e xamânicas  com o projeto Vahiyinin, que consiste em representar músicas rituais , e experimentais no âmbito do microtonal, atonal e mântrico.

                                       
    PD - Ultimo Ataque
                                     
                                                                     PD- Memória

Discografia de outros projetos usando teclado, órgão elétrico, sintetizador e programação de sons.
Sonosphera – Duas demos (ambas perdidas)-1999.
Fractais- Demo tape Fractais- 2002.
Vento Azul do Som – CD-R  Antropozoomórfico-2002/2003. CD-R Abaporú - Não lançado,3 way LP O Soma-2007.
Olho por Olho- 2014. Sons não lançados.
Discografia Psychedelic Down – PD1 – CD-R Control Door-2002. PD2 – CD-R Arte Nunca-2002. PD3 – CD-R Psicolocibe-2013. 3 way LP O Soma-2007
Sons do Psycghedelic Down sairam no filme Uma Viagem ao Calabouço de Hellingen
.Link https://www.youtube.com/watch?v=A_-pPfzU09Q  https://www.youtube.com/watch?v=FUgy-YH-vbQ 


 Arte para capa do que seria o primeiro trabalho da Sonosphera. Os áudios da banda foram todos perdidos



Demo tape Fractais- Lançada em 2002



 Agradeço a  todos e foi um prazer responder essas perguntas