Como componho?
Diferenciam-se dois modos: um que
se dedica à pesquisa acústica, – construções de instrumentos –, e depois a sua
aplicação prática. Se por acaso faltam timbres ou espécies de sons naturais ou
eletrônicos, as definições ficam difíceis, devido a esta falta de recursos.
A realização de novos timbres pode levar o
compositor a estranhos resultados, aonde ele pode constatar que a música que
ele se comprometeu de fazer compõe-se de ricas ornamentações de timbres, mas
não possui o fluido da música organizada. Uma parte da energia desviada no
espaço, digamos que seja no papel ou em algum universo paralelo, dará um
produto sempre de caráter meditativo, onde nada acontece no sentido orgânico do
crescimento da música.
Sendo o Som o material do qual fazemos a
música, este trabalho inclui pesquisa dos intervalos, a análise das escalas matemáticas
ou temperadas, e as outras – os sons naturais – (harmônicas). A observação de
que o Som, a nota musical em vibração, é o efeito de Algo ainda bastante
desconhecido, digamos semente de uma árvore que se multiplica na sua capacidade
plena no homem, onde a percepção pode ser a máxima possível, deixa adivinhar
que a forma do Som é universal, e, entretanto se limita em qualquer objeto
visível, passando a transitoriedade do processo da coagulação para a
dissolução.
O objeto visível se identifica, por exemplo,
nos artes plásticas, com o Som concreto, mas não sendo ainda a música.
O perigo neste procedimento, é que a pesquisa
pode engolir o compositor, ainda mais observando que "qualquer coisa"
é composta de vários elementos causadores (variantes) para uma composição. Nos
instrumentos cinéticos, pode ser aprovado pela velocidade do giro, que o ritmo,
a melodia (linha horizontal) e a harmonia, dependem da velocidade do giro.
(Instrumento de minha autoria "A Ronda").
Infiltra-se um novo fator nestas
observações: que não existe o acaso, mas sim o causalidade. Prova esta
afirmação um trabalho aonde foi usado um violão comum, em afinação original, e
tocado pelo vento.
(Violão eólico). Pela vibração,
explorando a frequência inteira das cordas, tem acontecido um fenômeno de
continuidade do som, modulando para um epílogo de uma coletividade para um
Uníssono. Não houve nenhuma interferência humana, foi apenas o próprio
instrumento, já preexistindo.
Sendo este processo gravado, apareceu ainda um
outro fator: a Inter acústica do instrumento:
encontram-se sons e harmonias neste processo, que não ficam auditíveis
na maneira comum de tocar um instrumento qualquer de cordas.
Desta pesquisa se desenvolveu depois o plano
"OVO", que explora a Inter acústica, e simultaneamente, a
microtonização, que se biparte em dois modos: 1° da afinação temperada, e 2° da
afinação natural.
Essas constatações se baseiam na
obra do autor mexicano Julian Carillo, "SONIDO 13". Embora como
parece, esta obra seja pouco realizável, preocupa a mente e pode influir no
procedimento tradicional do trabalho musical.
O processo pode ser feito escrevendo os
símbolos no papel. Prefiro porém a improvisação, eventualmente gravada para
depois retransformá-la na escrita. Prefiro a improvisação para enfrentar o
imprevisto e analisar, durante a "tocada", tanto os elementos
musicais, como a ecologia psíquica que os mesmos atraem.
Prefiro este processo vivo de
composição, onde sempre deve haver um contínuo temático que não pode parar, à
composição escrita, para manter a musicalidade espontânea.
Por que componho?
Defendendo a tese de que um dia, muito longe
ainda, seria o verdadeiro caminho de se fazer a música,
se as nossas inteligências fossem
mais apuradas, compor por simples prazer ao trabalho, por nele,no momento, acho
a felicidade, a qual talvez posso transmitir ao público. Procuro manejar o
processo do máximo dinamismo, que se estende até os não-acontecimentos, e deve
ultrapassar o silêncio do som dacaixa (instrumento musical). Aplico o
"choque": a dissonância.
Para quem componho?
Por prazer da própria experiência – se ela for
feita em grupos ou individualmente –, para ensinar.
Para criar mil pontos de
interrogações e ganhar uma participação grande, se por eventualidade tiver
público. Aprendi que a discordância causa mais resultados para evocar diálogos,
do que a concordância, procedimento acadêmico que estabelece o processo do
pensador "contínuo".
Sintetizando, a minha resposta às três
perguntas, é a seguinte:
Componho para pesquisar a matéria viva humano,
a sua reação ou não reação ao tema abordado,o domínio do silêncio e a
profundidade e dinâmica do Som que faz a música.
Componho por puro prazer ao trabalho que me
propõe durante o processo no qual acontece
uma felicidade muito rara .
Digo logo, componho para todos os presentes, que me acompanham, tanto os vivos que os mortos, para o Universo integral, que finalmente sou eu mesmo, ou poderia ser um dia.
Digo logo, componho para todos os presentes, que me acompanham, tanto os vivos que os mortos, para o Universo integral, que finalmente sou eu mesmo, ou poderia ser um dia.
Observação: Tenho perdido atualmente as salas
de ensaio devido a uma invasão de cupim, fixando-me na produção de livros para
preservar esta experiência da pesquisa, tanto musical que literária.
Walter Smetak